sexta-feira, 8 de maio de 2009

Clareiam Palavras as Coisas

"il teatro fuori del teatro."

Murilo Mendes

Lagartas decoram jardim e transitam como pelúcias que não se lançam ao abraço. Pés da cal feitos nuvem permanentes. Mãos heregem colunas pro céu. Avança corpo entre entulhos de história. Arrasta rosto cansado revelado por espelho sem convite. Imagem não se imagina, mas mais dos pelos gravitam. Chovem folhas de ferrugem; define: é lâmina que respira. Movem-se pedras; terra permanece. Pereiras penteiam-se à sombra. Alada leoa vigia sesta do sique. Lírio, colhido é, pro xá, que ri-diz: "os árabes inventaram o azar". Garota Rúbia olhos plantados florindo livro. Fauno corre depilado procurando à pressa meio-de-dia, encontra senda adentro centauro despido de cavalo e pensa: "fêmur, fêmea". Anãs, flores plurais, bélam baile. É elã enigma pintado à língua. Branco bardo da barba branca brinca de babel enquanto, cego, lê as mãos bíblicas. Fosso olha e ossos abismam. Lupas azulares caçam verbo no sono grave e cônscio. Decassílabos conversam com Alexandrinos sobre - as traças em seus travesseiros - assunto nada heróico. A meta da meta confirma as mães: presente é estado de espera. Se pianos são jogados da janela, vão. Pois que vá tristéssera do desejo. Costureira divorcia alfaiate da função de vestir Cupido. Exu roda amunã e bebe do melaço; fermento melanja a farinha no dendê; vai locar cabeça no orun montado em formiga saúvando saravá. Aço é forja realizada. Tudo mais é xirê; e corcéis descansam da tropa em carrossel. Parque existe sorriso, mas não cabe mais à cama. Sem piscar vistas levantam. É vontade de explicar vida com metáfora que faz perceber entrada do risco luminoso por aquela fresta desleixada. Luza manhã. Súbito clichê na cabeça combinando as borboletas: se os olhos são as janelas da alma, os cílios são persianas priscas. Vai! Abre as molduras pro mundo. Geme clara. É dia. Gema pura gravurada em cielocianoceano. Decide vestir de lona a existência. Ilumina palavras e coisas, descobre: volantes não dirigem destino.

Enviado por: Andre Capile

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